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domingo, 7 de março de 2010

Parabéns, mulheres!

Poderia escrever um bocado de pieguices sobre o dia da mulher, mas me recuso a entender essa data como a celebração do fato de que podemos procriar a espécie e também não faz nenhum sentido se sentir na obrigação de presentear ou cumprimentar alguém num dia como hoje só porque passou na novela que é assim que se faz.

Esse dia é para que a gente se lembre que muitas mulheres, no passado, lutaram por direitos que deveriam ser implícitos a nossa condição humana por si só, mas nos foi negado. Se hoje usamos calça comprida e cabelo curto é porque preconceitos medíocres como esses foram quebrados. Se hoje, por lei, temos o direito de receber o mesmo que um homem, num mesmo cargo, numa empresa qualquer, é porque alguém foi atrás desse direito. Só para exemplificar, aqui em terras onde canta o sabiá, as mulheres passaram a ter direito ao voto a partir da Constituição de 1934 - e isso não faz nem cem anos! Sem contar que, ainda hoje, existem mulheres que se dedicam a ajudar outras que apanham do marido e não conseguem se livrar da situação sem ajuda. Posso ficar lembrando situações e mais situações para exemplificar que a mulher, como qualquer outra "minoria" numa sociedade de homens brancos, teve muito trabalho para ter uma vida livre de submissão e, mesmo assim, sabemos muito bem que ainda há muito o que se fazer para neutralizar pensamentos e atitudes machistas e mesquinhas.

Agora, vamos ao assunto que me inspirou à escrever sobre a mulher. Outro dia estava fuçando pela internet quando me deparei com esta capa de revista:


Pelo que entendi essa é uma edição do ano passado, então é provável que essa criança já tenha nascido e tudo mais. Também pouco importa quem é Ingrid Guimarães. A questão é a seguinte: como é que existe tanta mulher disposta a aceitar que não existe outra opção na vida do que cultivar um corpo padrão para buscar sucesso e felicidade? A maioria das revistas voltadas para o público feminino estampam na capa: como ser bonita, magra e sexy - porque precisam nos convencer que só somos bonitas se formos magras e, por consequência, que só nos sairemos bem na insana luta para agarrar um bom partido se formos sexy e para tal temos que ser magras! Sou eu ou isso tudo soa meio esquisito demais?


Veja, ninguém aqui quer soar hipócrita! O problema não é se preocupar com a aparência; o problema é SÓ se preocupar com isso. A questão é acreditar que esse é o ÚNICO caminho possível para... ser feliz!

Olhem lá pra capa da revista de novo... AGORA sim o que mais me deixou... intrigada, digamos assim. Podemos ler o seguinte, na parte inferior: Atriz revela como faz para se manter bela e em forma durante a gravidez. Isso significa que uma mulher não pode engordar uns quilinhos nem quando está carregando uma vida em seu ventre? Nem quando engordar é absolutamente normal?


Você se lembra daquele provérbio latino Mens Sana in Corpore Sano? Significa Mente Sã em Corpo São, ou seja, a complementaridade entre mente e corpo. Uma mente funciona melhor num corpo saudável. Então, buscar um corpo mais bonito e saudável não pode ser o oposto de usar a cabeça pra pensar - afinal ela não serve só para separar as duas orelhas!


Por que será que nenhuma capa dessas revistas mais populares coloca uma mulher que precisou dormir pouco, comer mal para concluir um curso na faculdade e, depois de tudo, conseguiu se destacar naquilo que faz - mesmo sendo meio gordinha?


No fim das contas, eu me deparo com a seguinte situação: eu posso votar e trabalhar, posso escolher se e com quem vou me casar e posso optar por não ter filhos, mesmo causando um assombro em muita gente com minhas escolhas, posso viver bem assim porque tenho escolhas (é claro que essa premissa não vale para todas as mulheres, até porque muitas usam burca, né?)
Mas se eu resolver ter meus rebentos, terei que manter a forma! Afinal não ser o que todo mundo espera não é bonito nem aceitável. No fim das contas, sou mais corpo do que mente.


E vamos deixar claro que não estou dizendo que não devemos nos casar, ou ter filhos, ou ir na academia. Não estou dizendo que não devemos nos depilar. Feminismo não é o contrário de machismo. O que não podemos deixar é que nossos corpos sejam colocados como prioridade em detrimento de nossas mentes. Mens sana in corpore sano lembra? Não temos obrigação de ser o que está na revista, colega. Porque podemos ser o que quisermos. Peluda ou não, decidir é a solução. Liberdade, nesse caso, é escolha.


É moças... entretanto, é uma pena ver que ainda temos muitos sutiãs à queimar!!!!!

É claro, isso é só um gesto simbólico, tá? Não sou piromaníaca!

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