Pra quem gosta de ler, ver e ouvir - e outras coisas do tipo.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Quarto Poder



Uma pergunta que deveria ser mais recorrente nos dias atuais, e que não vemos ser feita é a respeito do papel que jornais e jornalistas têm hoje na sociedade.

Primeiro, devemos fundamentar que nossa sociedade é extremamente midiática e altamente influenciada pelo que é veiculado através dela. O hábito de questionar o que se vê na televisão ou se lê nos jornais não é muito comum. Por isso é fácil notar que tudo que é relatado nesses veículos é direcionado para que públicos específicos tenham conclusões específicas.

Essa sociedade midiática se faz presente a cada vez que há a possibilidade de uma pessoa desconhecida se tornar famosa, seja por qualquer motivo, desde participar de um reality show encarnando uma versão distorcida de si própria para agradar os telespectadores, ou quase sofre agressão física em uma universidade por usar uma roupa chamativa, até o acusado de assassinato da própria filha ou enteada.

O exemplo dos criminosos é bem recorrente, pois há diversos casos bizarros e cinematográficos acontecendo no cotidiano, assistir ao jornal hoje em dia, especialmente essa semana com o julgamento do caso dos Nardoni acontecendo, será uma experiência parecida com assistir uma série policial. Mas o grande problema é que tudo é real. Essa comparação deveria ser descabida, mas na luta pela audiência tudo é glamourizado e transformado em circo para atrair o maior número possível de telespectadores. Longe de mi apontar dedos para suspeitos e definir culpado, mas o que se vê é uma sociedade com sede de vingança e não de justiça enquanto os suspeitos são praticamente transformados em terroristas internacionais.

Esse tipo de glamourização não é privilégio das páginas policiais, pois a mídia esportiva também é vergonhosa. Com banalização da vida pessoal dos atletas. Se alguém puder me explicar como minha vida ficou melhor depois de saber que Tiger Woods é viciado em sexo, ou que o Kaká deixou seu troféu de melhor do mundo na igreja que ele freqüenta, eu ficarei muito satisfeito. Porém essas notícias são esfregadas na nossa cara, e mesmo fazendo o possível pra não ver ou ouvir alguma coisa sempre escapa. Tudo o que não influencia o rendimento do atleta no seu esporte deveria ser omitido, por que a vida particular deles não nos diz respeito e eles merecem o mínimo de privacidade. No caso do Senhor Woods, em minha opinião, deveria ser noticiado somente que ele se afastaria dos campos de golfe por problemas familiares e só!

Figuras do mundo do entretenimento também sofrem com isso, digo sofrem por que alguns tentam ter privacidade enquanto outros se esforçam para chamar a atenção. De novo, como minha vida fica melhor sabendo onde ou com quem algum ator/atriz/cantor/cantora/modelo/vedete almoçou?

Voltando ao papel da mídia jornalística, a princípio é fácil dizer que cabe a elas nos informar dos acontecimentos, mas também ajudar na formação de uma opinião. Assim é muito improvável que jornalistas e escritores consigam fazer seu trabalho de maneira completamente imparcial e objetiva, e acabam por direcionar a reportagem para que o leitor tire conclusões que atendam certos interesses. Conclusões essas, que farão com que o leitor consuma um produto específico, votem em um candidato específico, ou mesmo mude seus hábitos de uma maneira que antes não era cogitado.

Em favor aos jornalistas, devo dizer que ser completamente imparcial é muito difícil mesmo, por mais que se esforce é difícil não “acrescentar” um pouco de si próprio seja em uma obra escrita ou áudio visual, Mas o grande dilema é querer transformar essa obra em uma verdade absoluta e indiscutível.

Então quer dizer que devemos parar de assistir e comprar jornais? CLARO QUE NÃO!!!!!

O que deveria ser feito é tentar assistir ou ler notícias de diferentes mídias e tendências, a fim de expandir seus horizontes opinativos para um espectro mais abrangente, em que não haja julgamentos sem um embasamento cuidadoso.

A função dos jornais passa pela formação e informação social. É possível fazer as duas coisas ao mesmo tempo, para isso é preciso um comprometimento ético dos veículos de comunicação, que eles respeitem os interesses sociais e ajudem no desenvolvimento das camadas que compõem a sociedade. Todos devem ser informados sobre os acontecimentos, mas sem uma formação crítica a mensagem pode ser deturpada.

Os veículos de comunicação são tão representativos e importantes hoje em dia, que eles representam o quarto poder em vigência, exercendo uma forte pressão na comunidade política, como por exemplo, os horários dos jogos de futebol no meio da semana, que acabam em um horário extremamente incômodo para os torcedores, e não é mudado pela necessidade dos canais de televisão de passar o jogo após a novela. Ou outro exemplo clássico, quando um canal de televisão conseguiu praticamente eleger um presidente em 1989 na edição do último debate entre os candidatos.

A formação de opiniões é uma coisa muito séria, passa pela própria formação de caráter, e em nossa sociedade cada vez mais escrava do quarto poder é imprescindível que os pensamentos sejam livres.

A pior ditadura é aquela em que acreditamos que somos livres.

Um comentário:

  1. Achei o texto muito bom. Vou compartilhar desse link no meu blog, ok? Um Abraço. Douglas.

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