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quarta-feira, 16 de março de 2011

Bando de Dois



É muito comum embasar uma obra em um gênero. Aqui no Brasil os mais comuns são gêneros urbanos e as ambientações em favelas. Mas as pessoas, principalmente aqui no eixo sul-sudeste, se esquecem que existe toda uma cultura diferente no cangaço que pode muito bem ser comparado com o velho oeste norte americano, tanto no clima, como na paisagem natural, e os estereótipos bem definidos.

E é nesse cenário que começa a nossa história, provavelmente ela se passa na primeira metade do século XX no nordeste brasileiro, onde as milícias dos cangaceiros têm uma presença muito forte no cotidiano das pessoas, afrontando as forças oficiais brasileiras, saqueando os vilarejos e estabelecendo uma espécie de guerra civil em território nacional.

Vamos acompanhar Tinhoso e Cavêra di Boi, dois sobreviventes de um bando de cangaceiros que sofreu uma emboscada da volante do Tenente Honório, e agora estão em busca de vingança, mas para isso terão que executar um plano em que apenas esse “bando de dois” consiga surpreender e vencer seus algozes.

As grandes qualidades da História em quadrinhos são os próprios enquadramentos com imagens limpas e claras, não dando margem para confusões com luz e sombra e percebendo-se exatamente onde tudo começa e termina. Isso tudo, com uma variação de close-up e quadros abertos, que são muito eficientes para estabelecer o cenário árido em que os personagens estão. Para corroborar com o quadro a quadro em ritmo cinematográfico, os planos em detalhes fora do rosto dos personagens e muitas vezes sem diálogo, otimiza o processo da leitura e também do entendimento da história.

As páginas duplas são um diferencial da obra, por que são extremamente bonitas e simples, e tem uma função essencial na história, que é nos transportar para a aridez daquele mundo, para que nós possamos sentir a poeira entrando pelas narinas, isso principalmente quando mostra o vilarejo de Nova Nazaré, que na verdade é quase um beco sem saída.

O roteiro se mostra perfeitamente encaixado com a arte, as falas existem quando são necessárias, não há o didatismo e a repetição entre elas, fazendo assim com que elas se completem. Uma vez que o roteiro é direto e não se vale de artifícios superficiais e gratuitos para engrandecer o argumento, ele é objetivo, fazendo com que conheçamos os personagens e suas motivações de maneira cautelosa e regrada, para podermos aproveitar cada uma das camadas descobertas.

Não é uma história mirabolante, ou mesmo com mocinhos e bandidos bem estabelecidos desde o começo com maniqueísmo, ao contrário, os personagens são anti-heróis tentando concluir suas ambições a qualquer custo.

O autor, Danilo Beyruth, já é conhecido no meio dos quadrinhos com seu personagem Necronauta, e por ter participado de algumas antologias, mas não é exagero algum dizer que “Bando de Dois” é uma obra em quadrinhos de primeira qualidade que não deve em roteiro, arte, e execução do trabalho à ninguém.

É altamente recomendável!!!

2 comentários:

  1. Gostei da sinopse.
    Pena que encontrar quadrinhos nacionais seja tão raro, vivemos babando ovo pra marvel, DC, se muito uma vertigo da vida e esquecemos completamente da arte e de artistas nacionais.
    Você tem alguma sugestão de onde encontrar esses quadrinhos, se possível perto de São Bernardo do Campo.

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  2. na casa do vinicius vc encontra um monte no guarda roupas;;;;kkkkkkkkkk

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